sexta-feira, 22 de setembro de 2006

471. Conferências - Fenómenos climáticos sem pressões políticas

“Não há lóbi que consiga contornar a problemática das alterações climáticas”, esta foi uma das principais conclusões da conferência proferida pelo professor Eduardo Brito de Azevedo, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, no âmbito do programa da Câmara Municipal de Angra para a Semana Europeia da Mobilidade Europeia.A sessão de esclarecimento, decorrida ontem à tarde no Salão Nobre da autarquia angrense e presenciada por alunos do ensino secundário, pretendeu alertar para as preocupações “prementes” da climatologia. Para o docente trata-se cada vez mais de uma “questão incontornável” e “universal”.
“Esta é uma discussão está na ordem do dia”, enfatizou, e que não está subjacente, defendeu, a qualquer agenda política.Caso disso, está na catástrofe vivida pelos Estados Unidos da América, com a devastação levada a cabo pelo furacão Katrina, que foi referenciada pelo académico como um alertar de consciências naquele país: “o furacão Katrina despoletou a política americana a inverter a sua posição nessa matéria”.
“Katrina” antecipado - Porém, o poder de destruição levado a cabo por fenómenos climáticos já era previsto pelos especialistas há já algum tempo: “alguns dias antes do furacão, um artigo na «Nature» já indicava que esse era um fenómeno previsível” dadas as alterações da circulação termoalina, ou seja, o movimento das correntes oceânicas que redistribuem as temperaturas por todo o planeta.“As evidências já estavam aí”, reforçou.
O aumento dos fenómenos climáticos de grande visibilidade, como os furacões, está interligado a outras variáveis que ao longo dos anos têm assumido uma cada vez maior visibilidade, como o aumento de períodos de seca, o degelo dos glaciares, etc.
Açores privilegiados - Eduardo Brito de Azevedo refere que os Açores são “sítio privilegiado” para o estudo da climatologia a nível global e que a partilha de estudos, e de dados relativos a este campo do saber já têm sido e estão a ser desenvolvidos, exemplificando com o projecto de medição da concentração de dióxido de carbono e de outros gases, a decorrer no cimo da ilha do Pico e na Serreta na Terceira, cujos dados são usados pelo National Oceanic & Atmospheric Administration (NOAA) ou pelos resultados do SIAM (Climate Change in Portugal) que efectua previsões do clima para o país e ilhas.
Uma vez trata-se esta conferência de uma iniciativa inserida numa campanha dissuasora do uso de combustíveis fósseis, o especialista chama a atenção para a “ligação directa” entre o gases emitidos pela circulação automóvel e o aumento do efeito do estufa: “se cada pessoa se libertasse, ainda que por apenas algum tempo, do uso do seu automóvel, poderia estar a contribuir individualmente para a diminuição do efeito de estufa”.
Mais calor e chuvas - À semelhança do resto do mundo, as alterações climática também vão ser sentidas nos Açores. Mais calor, chuvas mais intensas, aumento do nível do mar – este é o quadro generalizado para o país e para as ilhas. As três principais variáveis – temperatura, precipitação e nível do mar – sofrerão modificações no decorrer das próximas décadas.
Apesar de ser a região do país que apresenta as menores alterações climáticas, os Açores vão ver aumentadas as suas temperaturas em 1 a 2 graus até final deste século. A título comparativo, existem outros pontos do no interior do país que, por exemplo, apontam para um acréscimo da temperatura que oscila entre os 5 e 6 graus. Quanto à precipitação, o cenário moderado é igual, não se prevendo grande variação anual, porém, a sua redistribuição ao longo do ano sofrerão uma redistribuição, facto que fará com que as chuvas concentrem nos meses de Inverno, projectando-se Verões mais secos. Em relação ao nível do mar, os estudos feitos apontam para um aumento de 50 cm para todo o país.
Oceano moderador - As alterações relativas do clima nos Açores tem a seu favor, referem os especialista, o papel modelador e moderador do oceano nas temperaturas insulares. Porém, ficam em alerta os perigos associados à erosão provocada pelas chuvadas fortes sobre os solos insulares, com particular destaque para o surgimento de deslizamento de terras. As secas do Verão, por seu turno, poderão trazer consequências para a ocupação em termos económicos desse solo.
Com apresentação de resultados prevista para o fim deste mês, estão as previsões climáticas da Madeira que apontam para um agravamento das condições de tempo. As projecções apontam para uma grande diminuição da precipitação anual que terá impacto nos recursos hídricos. Estes são dados apurados no âmbito do SIAM (Climate Change in Portugal– Scenarios, Impacts and Adaptation Measures) que iniciado em 1999, fez uma previsão até 2100 dos cenários climáticos não só para o território nacional, como das regiões insulares. Avaliar os impactos sobre um conjunto de sectores sócio-económicos e sistemas biofísicos tão variados como os recursos hídricos, as zonas costeiras, a agricultura, saúde humana, energia, florestas e biodiversidade e pescas foi o principal objectivo desenvolvido por diversos investigadores e instituições.
FONTE:
Canal de Notícias dos Açores

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